Se podemos tirar uma lição de tudo isto o que está acontecendo no Brasil e no mundo é que o agro não para, e não pode parar. Tanto que as cadeias produtivas do agronegócio foram consideradas essenciais e tiveram permissão para continuar trabalhando em tempo de isolamento social.
Os elos dessa corrente, que tem o homem do campo, em sua lida com a terra, como peça central, e o caminhoneiro, que transporta a comida para estar disponível na mesa de milhões de brasileiros, como ponta de lança, ajudam a definir esse setor que representa tudo o que acontece antes, dentro e depois das porteiras das fazendas.
A lista de todos esses elos é grande, vai desde a pesquisa até o comércio, passando por indústrias, bancos, revendas, oficinas, supermercados, lojas… Cada um fazendo o seu papel para que essa grande engrenagem não pare.
O agronegócio, que representa 21,4% do PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro, quase 25% dos empregos do país, e há anos tem sido o responsável por garantir o superávit da nossa balança comercial, também vai sentir os efeitos dessa crise sem precedentes, mas sua forte presença vai, mais uma vez, suavizar as sequelas que vêm por ai.
Foi por isso que o Grupo Tracan lançou sua campanha conclamando a todos para estarem unidos com o agro, hoje e sempre, e vai seguir de perto tudo o que acontece com o setor, divulgando aqui balanços importantes de acompanhamento.
A agropecuária brasileira deve crescer 2,9% em 2020
A despeito do momento atual, o Relatório Trimestral de Inflação (RTI), do Banco Central do Brasil, divulgado no dia 26 de março, apontou que, mesmo com os efeitos da pandemia do novo coronavírus (COVID-19), a agropecuária brasileira deve crescer 2,9% em 2020.
O número é igual ao do relatório divulgado em dezembro, diferente do esperado pelo mercado. Segundo o Banco Central, isto se deve à melhora dos prognósticos para a safra de grãos e leva em conta também os impactos da pandemia sobre a demanda interna e externa por proteínas, diz o relatório.
Boletim CNA de impactos do novo coronavírus sobre a agropecuária brasileira
A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) criou um grupo de monitoramento para avaliar os dados e propor medidas para garantir alimentos seguros à população. No boletim, referente aos impactos da pandemia do COVID-19 no agro, no período de 23 a 27 de março, foram divulgadas as seguintes informações sobre as culturas mais impactadas e os mercados:
Frutas e hortaliças
Um dos setores mais atingidos pela crise, já que o fechamento de restaurantes, bares e feiras livres reduziu significativamente a demanda desses produtos. Nos principais centros consumidores, o preço do tomate caiu em média 37% em relação à semana passada, que já foi de baixa.
Para amenizar os impactos negativos aos produtores, a CNA tem atuado para ampliar as compras governamentais de alimentos, ampliar também a rede de fornecedores às grandes redes de varejo e buscado alternativas para venda online dos produtos pelas cooperativas e produtores rurais.
Exportadores de frutas relatam uma suspensão drástica das exportações por via aérea. As exportações eram feitas basicamente em porões de voos de passageiro, os quais estão praticamente indisponíveis no momento. Anteriormente à crise do COVID-19, as frutas partiam de diversas regiões do país para destinos como União Europeia, Estados Unidos, Emirados Árabes e outros.
Flores e plantas ornamentais
O setor, que gera mais de 1,01 milhão de empregos diretos e indiretos, foi fortemente prejudicado nas duas últimas semanas devido à redução drástica das compras desses produtos. O Instituto Brasileiro de Floricultura (Ibraflor) estima que o setor já perdeu R$ 297,7 milhões em faturamento, podendo agravar caso a quarentena se mantenha pelos próximos meses.
Boi gordo
Os preços começaram a cair na semana passada, mas o produtor preferiu segurar o boi no pasto à venda. Com isso, os frigoríficos voltaram a negociar no patamar de R$ 200 por @, em São Paulo. Ao final da semana, a quantidade de animais negociados foi a maior dos últimos 10 dias, o que deve alongar as escalas de abates dos frigoríficos e pressionar cotações futuras novamente.
Lácteos
Pequenas indústrias lácteas localizadas principalmente no Nordeste do Brasil anunciaram redução na coleta de leite, preocupando os produtores que ficaram sem compradores. Diferentemente, as grandes indústrias e cooperativas adotaram a estratégia de remanejar sua produção para UHT e leite em pó. Algumas indústrias do Rio Grande do Sul e Goiás que comercializam produtos lácteos para outros estados apontaram dificuldades com o frete retorno.
Ovos
Diante da forte demanda, os preços de ovos têm se valorizado diariamente. Em março, o preço pago ao produtor já acumula alta de 15,8%.
Ração animal
Uma grande preocupação dos pecuaristas de têm sido com os custos da ração. Atualmente, a ração base (30% farelo de soja e 70% farelo de milho) está 19% mais cara do que a média do mês de fevereiro. Isso se deve às constantes valorizações do milho e da soja no mercado interno, influenciadas por demanda aquecida e valorização do dólar.
Aquicultura
A comercialização de camarão tem sofrido grande impacto devido ao fechamento do food service. Como alternativa aos produtores, a CNA fez contato com grandes redes varejistas do país, as quais já começaram a ampliar os pedidos de compra do produto.
Commodities agrícolas
Commodities agrícolas, como soja, milho e café, registraram valorizações na semana, influenciadas pela demanda aquecida, estoques baixos e manutenção do câmbio alto. No setor sucroenergético, os preços do etanol se mantiveram estáveis, mas com tendência de baixa diante das perspectivas de queda no consumo.
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Até o momento, os problemas enfrentados por esses setores têm sido principalmente quanto ao fechamento de lojas e revendas que fazem reposição de peças e equipamentos para maquinários agrícolas e ao escoamento. Iniciativas regionais de impedimento do fluxo de caminhões ocorreram, mas já foram solucionadas.
Medidas adotadas no campo
A colheita de café e cana se iniciam em breve e os setores já estão adotando medidas para evitar a contaminação por COVID-19, como a redução do número de trabalhadores transportados nos ônibus, ampliação dos horários de funcionamento dos refeitórios e orientações sobre higienização individual e frequente.