Conhecido por muitos como celeiro mundial, o Brasil figura entre os países que têm a maior produção agrícola do mundo. Assim, além das dimensões continentais e do clima favorável, é preciso que o setor consiga inovar e se desenvolver de forma sustentável, com a agricultura digital e a agricultura de precisão sendo fundamentais nesse sentido.
Diante disso, práticas e métodos de produção são desenvolvidos ao longo dos anos para assegurar melhores desempenhos sem a necessidade de aumentar as áreas de exploração agrícola, ou seja, aumentou-se a produtividade!
Mas, o desafio não para por aí. Estima-se que a população deva aumentar em mais 2 bilhões de pessoas até 2050, atingindo mais de 7,5 bilhões de pessoas em todo o mundo, exigindo um aumento de mais de 70% na produção de alimentos.
No processo de crescimento do agronegócio brasileiro, bem como para os desafios vindouros, precisamos contar com as soluções de agricultura digital e também da agricultura de precisão.
Presentes em todas as regiões do Brasil e nas mais variadas propriedades rurais, a agricultura digital (AD) e a agricultura de precisão (AP) vêm sendo adotadas em maior frequência pelos agricultores, tornando-se essenciais para alcançar maior produtividade e um desenvolvimento sustentável do agronegócio brasileiro.
Embora muitas vezes utilizadas no mesmo contexto e, por diversas vezes, andem juntas, a AD e AP não são efetivamente a mesma coisa. E é preciso conhecer o papel de cada uma delas na agricultura.
O que é Agricultura de Precisão ?
A agricultura de precisão apresenta várias definições, mas de forma geral ela pode ser definida como o conjunto de princípios e tecnologias voltados ao melhor entendimento do manejo da variabilidade espacial e também temporal, sempre objetivando o aumento da produtividade de todas culturas, assim como da sustentabilidade ambiental.
Introduzida no Brasil há mais de duas décadas — sobretudo com a popularização de sistemas GPS — a AP ainda apresenta grande potencial de desenvolvimento.
As ferramentas de automação passaram a ‘customizar’ a produção em cada parte da área agricultável da propriedade. As particularidades de cada ponto da lavoura passaram a ser consideradas, o que leva à aplicação por taxa variável, ou seja, cada parte do talhão recebe o insumo ideal.
Vale ressaltar que a agricultura de precisão está fortemente ligada à aplicação de adubos e calcário de acordo com a variabilidade dos solos nas áreas de cultivo, mas também vem sendo associada às pulverizações de defensivos por locais de interesse (como pontos com infestação de daninhas).
No ano de 2017, a Embrapa desenvolveu diversos estudos sobre a agricultura de precisão, e um deles, que avalia o uso de drones de imageamento para avaliação nutricional das culturas agrícolas, pode ser acompanhado no vídeo abaixo.
O que foi possível perceber é que a agricultura de precisão por si só era incompleta e, com os avanços dos sensores e o grande número de dados sendo obtidos, precisava-se de algo a mais: a digitalização da agricultura!
O que é Agricultura Digital ?
Hoje em dia, inovar é fundamental para o desenvolvimento econômico sustentável. Assim, possuir a capacidade de se manter atualizado é decisório para a manutenção e obtenção da competitividade no mercado, sobretudo, global.
Para a agricultura, isso é particularmente verdade, onde novas soluções tecnologias estão proporcionando aumento significativo na produtividade.
O termo ‘Agricultura Digital’, que também pode ser conhecido por ‘Agricultura 4.0’ ou ‘Agro 4.0’, refere-se ao uso intensivo das mais diversas técnicas de informática e computação para obtenção de dados e tomada de decisão.
Esta revolução digital prospecta um passo maior, pela integração e comunicação em tempo real — entre equipamentos, sensores e demais ferramentas utilizadas para gestão e atividades do campo.
Fonte: Revista Cultivar, 2021.
Sendo assim, a agricultura digital promove a agricultura inteligente, também conhecida pelo termo smart farm, que, embora recente, já contempla diversas soluções e aplicabilidades. Vejamos algumas:
Aplicativos e softwares
Diversas soluções já foram desenvolvidas nesta vertente da agricultura digital. É por meio de aplicativos — os famosos apps — e softwares que o agricultor pode acessar e manipular informações relevantes para gestão e tomada de decisão nas lavouras.
É possível encontrar ferramentas para as mais variadas necessidades, que vão desde um portal para acompanhar notícias e, até soluções robustas e complexas para conectar e fazer a gestão de propriedades inteiras pela palma da mão.
Já está se tornando comum encontrar produtores que usam soluções de agricultura digital para acompanhar a meteorologia e alguns manuais digitais que auxiliam na identificação de pragas e doenças.
Outros avanços nessa vertente e que vem ganhando espaço, são as ferramentas de gestão de propriedades, que permitem ao agricultor maior segurança nas suas decisões.
Obtenção e análise de dados
Muitas vezes integrado às soluções de apps e softwares, o universo da Big Data — grande base de dados — está elevando a agricultura digital a outro patamar tecnológico.
A proposta aqui é que as mais variadas informações coletadas no campo (como chuva, vento, umidade do solo, época de plantio e colheita, aplicações, etc.) sejam coletadas, armazenadas e interpretadas para auxiliar na tomada de decisão, isso torna a agricultura bem mais precisa.
Internet das coisas
Este passo pode ser considerado o próximo avanço, mas já está presente para algumas realidades no agronegócio brasileiro.
A Internet das coisas — ou Internet of things (IoT) em inglês — é a interconexão digital entre objetos do dia a dia através da internet.
Basicamente, seria o seu trator conectado com a estação meteorológica, que também é conectada com o banco de dados de imagem de satélite, que por sua vez, são acessíveis por qualquer dispositivo com acesso a internet.
Este avanço permitirá uma integração direta entre o mundo físico e os sistemas baseados em computador, dando autonomia total para quem gerencia a propriedade.
Além disso, um estudo realizado pela parceria multidisciplinar entre Embrapa, SEBRAE e INPE, avaliando as tendências, desafios e oportunidades da agricultura digital no Brasil, obteve que 84,1% dos agricultores participantes da pesquisa utilizam ao menos uma tecnologia digital em seu processo produtivo, ao passo que os outros 15,9% alegaram não utilizar nenhuma.
Existem diversas iniciativas que buscam levar a digitalização para todos na agricultura. Neste texto aqui falamos sobre os incentivos e ajustes necessários para democratizar a agricultura digital.
Desafios e oportunidades
A intensificação no desenvolvimento e adoção de agricultura digital e agricultura de precisão está se dando pela exigência do mercado por alimentos mais saudáveis, a necessidade de preservação dos recursos naturais, a redução da mão-de-obra no campo mas, sobretudo, pela tendência mundial de elevação dos custos de produção.
Embora seja um desafio, será através das contribuições dadas pela AD e AP que tornaremos a agricultura bem mais produtiva e sustentável.
No estudo entre Embrapa, SEBRAE e INPE, por exemplo, a conectividade — representada pela internet — foi apontada como a principal tecnologia adotada pelos agricultores do grupo amostrado, em que 70% alegaram utilizá-la para algum fim ligado à produção.
Entre eles, quase 60% utilizam das redes sociais para obter e compartilhar informações, o que vem democratizando o conhecimento na agricultura.
Por outro lado, os agricultores relataram ainda possuir dificuldades em acessar tecnologias digitais. Embora o custo de aquisição esteja em primeiro lugar (67,1%), os problemas ou a falta de conexão com a internet em áreas rurais aparece em segundo lugar (47,8%).
Isto representa um grande desafio para a adoção e implementação de soluções de agricultura digital no campo, bem como uma grande oportunidade para expansão e democratização da internet nas áreas rurais.