Para cada litro de etanol produzido pela indústria são gerados de 10 a 15 litros de vinhaça, segundo dados da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (UNICA).
A vinhaça, que no passado era descartada diretamente em rios e em mananciais provocando prejuízos ambientais, hoje é opção para adubar o solo em razão da alta concentração de potássio, fundamental no processo de fotossíntese, da absorção de nutrientes e em diversas reações enzimáticas no interior da planta, reduzindo o uso de fertilizantes químicos. A vinhaça é também fonte de energia por meio do processamento do biogás.
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Aplicação da vinhaça
“A vinhaça elevou o patamar de produtividade de muitos solos, quer pelo aporte de matéria orgânica como pelos nutrientes contidos”, explica a engenheira agrônoma Raffaella Rossetto, pesquisadora da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA)/ Programa Cana do Instituto Agronômico (IAC).
A utilização de vinhaça como fertilizante agrícola teve início na década de 1970 e se intensificou no final dos anos de 1990, principalmente devido ao aumento dos preços dos fertilizantes químicos. É aplicada nos canaviais na forma líquida, por meio da fertirrigação, técnica de adubação que utiliza a água de irrigação para levar nutrientes ao solo. As usinas já aplicam 100% da vinhaça produzida no próprio cultivo da cana.
Desde a década de 1980, o resíduo vem sendo utilizado em área total, em irrigação nas soqueiras, com o uso de canhões aspersores que lançam por uma moto-bomba a vinhaça succionada diretamente do canal principal.
Há também a tendência de utilização da vinhaça aplicada na linha da cana. Em geral, essa prática tem ocorrido quando a vinhaça é mais concentrada em potássio. “A aplicação na linha é mais rápida e eficiente, com ganhos econômicos. Ambientalmente apresenta vantagens por não acarretar problemas de vazamentos e encharcamentos no solo”, destaca Raffaella.
A quantidade de vinhaça aplicada no canavial é definida com base no teor de potássio e na análise química do solo, informações que compõem o Plano de Aplicação de Vinhaça (PAV). Essa documentação, conforme explica o engenheiro agrônomo Danilo Alfenas Voltarel, é protocolada na Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (CETESB).
“Por meio desta análise, juntamente com o PAV, é estabelecida a lâmina ideal de aplicação de vinhaça e o volume de determinada calda ou solução rica nos demais nutrientes importantes para o desenvolvimento da cultura. Esta calda ou solução deve ser homogênea, incorporada à vinhaça também de forma homogênea e aplicada na dose programada através das necessidades culturais da área”.
No estado de São Paulo, a Norma Técnica P4.231/2005, da CETESB, define o cálculo para determinar a quantidade de vinhaça a ser aplicada no solo, como deve ser o monitoramento, além de dar disposições gerais para armazenamento e aplicação da vinhaça.
“Em geral, volumes de 150m3/ha são doses médias comuns. Para a vinhaça aplicada na linha da cana, o volume de cerca de 40a50 m3/ha permite a aplicação da dose de potássio suficiente para o manejo da soqueira da cana”, esclarece Raffaella.
No modelo de aplicação na linha da cana, como fertilização líquida, deixa o processo mais econômico. Neste caso, os custos são semelhantes aos da aplicação de cloreto de potássio sobre a palha, considerando uma mesma distância.
Há vantagens e desvantagens financeiras no uso da vinhaça como fertilizante: o produtor economiza na compra do potássio, que na maioria das vezes é importado, mas tem de investir mais na aplicação – o uso de aspersores e aplicação da vinhaça em área total gera um gasto superior à aplicação de cloreto de potássio.